quinta-feira, 30 de abril de 2009



O que a tragédia na educação pública tem a ver com a segurança

"(...) Fica claro que o Brasil está na condição de uma nave com todos os instrumentos em perfeito funcionamento, onde a tripulação tem todas as informações de que rumamos para um desastre, mas os procedimentos para evitar o pior deixam a desejar. O quadro é catastrófico, o que não surpreeende, mas continua e deve continuar a assustar: das mil escolas com as piores notas (do Enem), 965 são públicas: entre as mil melhores, apenas 36, ou 3,6% do universido delas, estão nesta categoria, basicamente federais. E o pior: encontram-se em estabelecimentos públicos 85% dos estudantes matriculados no ensino de nível médio. (...)
O trecho acima é do editorial do GLOBO de hoje intitulado "Brasil partido", que aponta o "abismo criado pela baixa prioridade que o Estado concede à instrução dos pobres". Sem dúvida a equipe de Aluízio Maranhão, o chefe dos editorialistas da Irineu Marinho, está de parabéns, por produzir tamanho alerta.
E o editorial prossegue:
"(...) Reportagens do GLOBO mostraram como, públicas e privadas, as melhroes escolas seguem princípios comuns, e de conhecimento geral: professores competentes, bem remunerados, assíduos, e alunos mantidos na escola bem mais tempo do que nos colégios públicos estaduais de baixo padrão".
A leitura que faço desse editorial é que o país vive hoje as consequências do desmantelamento de serviços públicos de primeira necessidade, como educação e saúde, que é o que garante de verdade a sobrevivência e o desenvolvimento dos mais pobres, sem que precisem recorrer ao paternalismo e a esmolas do Estado, seja na forma de bolsas-família ou bolsa-qualquer-coisa ou de cotas raciais e sociais. Sem aderir a qualquer teoria conspiratória, é mais do que óbvio que o modelo neoliberal falhou ao exacerbar na defesa do privado e no desprezo total ao que é público.
E tudo o que constatou o editorial sobre a educação pública pode-se verificar também na área de segurança. O fortalecimento da indústria da segurança privada - ainda que necessário, diante dos alarmantes índices de criminalidade das grandes cidades brasileiros - acontece praticamente ao mesmo tempo em que a segurança pública dá sinais de maus tratos e desmantelamento, a julgar pela precariedade de seus serviços e do nível de seus servidores, que tem cada vez menos condições salariais de investir em suas carreiras públicas. Só lhes resta então buscar espaço na segurança privada. E aí, o "bico" passa a ser o emprego público.

Jorge Antonio Barros -
30.4.2009
4h45m
http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/

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