domingo, 5 de dezembro de 2010

REFLEXÕES A PARTIR DA AÇÃO NO COMPLEXO DO ALEMÃO

1-  Pequenas e médias ações policiais são decisões técnicas, grandes ações são decisões políticas;
2-  Forças de Segurança podem agir de forma coordenada sem ferir competências: Gestão Horizontal;
3-  Apoio popular à polícia somente se mantém se houver controle sobre o serviço do policial;
4-  Política Pública de Segurança é eficaz se for coordenada, contínua e envolver áreas afins;
5-  Visibilidade é satisfatória para a Instituição, narcisismos corroem ações conjuntas;





Sérgio Flores de Campos

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

FALANDO DE TROPAS, ELITES E O IMAGINÁRIO

*Sérgio Flores de Campos

O imaginário é identificado como um conjunto de imagens e interações de imagens que formam o ser humano. No momento em que passa a fazer parte do homem esta aura interfere nas suas ações. Então, o imaginário é real, ele age sobre as pessoas. O imaginário é encontrado, por exemplo, em um filme. Diante da tela de projeção a imagem exige um mergulho na sua plenitude. Na medida em que experimentamos acionamos nossos sentidos, assim, incorporamos a imagem a nosso imaginário, a qual repercute em nossas atitudes.
Um filme que tenta espelhar uma cultura organizacional torna-se produto e produtor do imaginário social. Dele jorram conceitos oriundos de mitos, estereótipos e fantasias, os quais geram outros mitos, estereótipos e fantasias, porém imersos em uma consistente realidade.
O entrelaçamento entre plateia e obra, portanto, é um fato. Edgar Morin já afastava a ideia de passividade do espectador, reforçando o entendimento de que entre a imagem e a assistência há uma relação, uma interação. Assim, é interessante supor os efeitos difusos de uma obra como "Tropa de Elite" no imaginário da sociedade.
Desta forma, em relação aos profissionais de segurança, aventa-se a possibilidade dela vir a se firmar como plena verdade em relação a ação de força, uma heroica verdade e, consequentemente, reforçar atitudes que ali encontram guarida para se reproduzirem. É uma questão de visibilidade. Não se pode tirar do homem a possibilidade dele ser o ator de sua existência, muito menos é possível isentá-lo das consequências de suas escolhas. Os pequenos atos “heroicos” amenizam a sensação de impotência diante do emaranhado de conflitos criados pela sociedade, cotidiano da polícia é comparado ao mito grego de Sísifo que rola uma grande pedra colina acima, ao chegar ao cume a pedra rola para o outro lado abaixo. Fazer polícia é um eterno recomeçar.
Por sua vez, tratando da sociedade, podemos supor que ela venha a tolerar os métodos - de força – apresentados no filme (enquanto forem aplicados a uma distância segura ), já que diante da urgência justifica-se a simplificação do enfrentamento: a violência resolvida pela violência.

Ao fim chegamos a um ponto crucial, quando se observam os jogos de poder firmado pela política - não esqueçamos – fruto de um ambiente social em que as relações são verdades inconvenientes, mas afinal todos “lucram” ( alerto, ainda, para que evitemos o perigo das generalizações ). Estamos diante da exposição de um sistema e de suas interações, porém alguns da plateia ainda podem não ter descoberto que o sistema ali exposto é recorte da sua sociedade, onde ele é ator. Para Michel Maffesoli, falando da arte, o criador só é criador se consegue captar a sociedade. O filme, desta maneira, transforma-se em um Panóptico. Michel Foucault propõe, em seu projeto, que o supervisor oculto manteria o poder sobre os internos a quem vigiava. Aqui a vigilância passa a ser da plateia sobre a imagem que materializa o Estado, no seu imaginário.
Neste passeio pela tela, cenários, roteiro, atores e plateia, aguça-se a pretensão de solucionarmos infinitas questões: É assim? Age-se assim? Continuará assim? Qual o motivo de ser assim? Como eu contribuo para isto? Porém, enquanto perdurar a possibilidade de diálogo entre os fatos da ficção e da realidade, todos estarão imersos na constância da incerteza e da reflexão. Contudo, o imaginário já será produto das imagens a que foi exposto, a plateia não mais será a mesma de antes da viagem pela obra.

Tenham todos um bom espetáculo.
* Tenente Coronel da Brigada Militar

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DANIEL FOI PRESO POR FALAR ALEMÃO

Sérgio Flores de Campos*

Recuperei um livro de registro de ocorrências da Brigada Militar datado de 1938. Nele constava a prisão do agricultor Daniel S. por falar o idioma alemão (preservo o sobrenome), destaco que o cidadão preso era de origem russa. Utilizo este parâmetro histórico pensando naquilo venhamos a planejar perante a ordem e, consequentemente, as políticas públicas de segurança para atender a sociedade atual.

Assim, trago esta reflexão diante expectativa criada pela proposta de Gestão em Rede do novo Governo do Estado, através do ProRedes-RS. Analiso-o, despretensiosamente por não o conhecer em profundidade, restringindo-me à gestão interna. Esta proposta traz uma lógica diferenciada para atuação profissional em uma sociedade caracterizada pela conectividade, redes e antagonismos. Pressupõe como base a superação de fronteiras pessoais e institucionais, como ilustra Edgar Morin ao tratar da inteligência cega, quando não se potencializam as competências e qualidades, ou ainda, a ética mecânica do burocrata, exposta por Zygmunt Bauman: “Isto não é comigo!”.

Os novos modelos de gestão são um produto da participação mais vigorosa da sociedade nas decisões políticas, cristalizado pelo Relatório sobre a Governança Global da ONU. Além do mais, a modernização da administração pública tem estreita ligação com sua própria legitimidade, conforme encontramos no livro A Questão do Estado no Coração do Futuro (Calame e Talmant) onde nos é lembrado que os dinossauros pereceram por não se adaptarem às mudanças do mundo.

A gestão da Segurança Pública deverá ter suporte em estratégias que estabeleçam propostas de vanguarda, alianças e excelência de gestão, incorporadas pela cultura profissional. Tipo assim, tanto na repressão ou prevenção a administração terá de agregar conceitos como inovação, accountability, gestão da qualidade e do conhecimento, análise de processos, qualidade de vida dos funcionários, em suma, uma gestão calcada, “pasmem”, em áreas como a Engenharia de Produção. Porém, isto somente terá efetividade através de uma mudança da cultura de gestão percutida pelo compromisso direto dos comandos e chefias.

Então, respeitando os pseudos-céticos, modernizar é preciso, seja acolhendo uma nova proposta ou apresentando alternativas com um suporte de conhecimento ao nível da complexidade social, caso contrário vamos continuar a prender “Daniéis”. Contudo, se não for ele o preso, desejo erfolg (sucesso) às novas ações públicas.

*Tenente Coronel, Comandante do 4º BPAF –Brigada Militar