quarta-feira, 3 de novembro de 2010

DANIEL FOI PRESO POR FALAR ALEMÃO

Sérgio Flores de Campos*

Recuperei um livro de registro de ocorrências da Brigada Militar datado de 1938. Nele constava a prisão do agricultor Daniel S. por falar o idioma alemão (preservo o sobrenome), destaco que o cidadão preso era de origem russa. Utilizo este parâmetro histórico pensando naquilo venhamos a planejar perante a ordem e, consequentemente, as políticas públicas de segurança para atender a sociedade atual.

Assim, trago esta reflexão diante expectativa criada pela proposta de Gestão em Rede do novo Governo do Estado, através do ProRedes-RS. Analiso-o, despretensiosamente por não o conhecer em profundidade, restringindo-me à gestão interna. Esta proposta traz uma lógica diferenciada para atuação profissional em uma sociedade caracterizada pela conectividade, redes e antagonismos. Pressupõe como base a superação de fronteiras pessoais e institucionais, como ilustra Edgar Morin ao tratar da inteligência cega, quando não se potencializam as competências e qualidades, ou ainda, a ética mecânica do burocrata, exposta por Zygmunt Bauman: “Isto não é comigo!”.

Os novos modelos de gestão são um produto da participação mais vigorosa da sociedade nas decisões políticas, cristalizado pelo Relatório sobre a Governança Global da ONU. Além do mais, a modernização da administração pública tem estreita ligação com sua própria legitimidade, conforme encontramos no livro A Questão do Estado no Coração do Futuro (Calame e Talmant) onde nos é lembrado que os dinossauros pereceram por não se adaptarem às mudanças do mundo.

A gestão da Segurança Pública deverá ter suporte em estratégias que estabeleçam propostas de vanguarda, alianças e excelência de gestão, incorporadas pela cultura profissional. Tipo assim, tanto na repressão ou prevenção a administração terá de agregar conceitos como inovação, accountability, gestão da qualidade e do conhecimento, análise de processos, qualidade de vida dos funcionários, em suma, uma gestão calcada, “pasmem”, em áreas como a Engenharia de Produção. Porém, isto somente terá efetividade através de uma mudança da cultura de gestão percutida pelo compromisso direto dos comandos e chefias.

Então, respeitando os pseudos-céticos, modernizar é preciso, seja acolhendo uma nova proposta ou apresentando alternativas com um suporte de conhecimento ao nível da complexidade social, caso contrário vamos continuar a prender “Daniéis”. Contudo, se não for ele o preso, desejo erfolg (sucesso) às novas ações públicas.

*Tenente Coronel, Comandante do 4º BPAF –Brigada Militar

Nenhum comentário:

Postar um comentário