quinta-feira, 18 de novembro de 2010

FALANDO DE TROPAS, ELITES E O IMAGINÁRIO

*Sérgio Flores de Campos

O imaginário é identificado como um conjunto de imagens e interações de imagens que formam o ser humano. No momento em que passa a fazer parte do homem esta aura interfere nas suas ações. Então, o imaginário é real, ele age sobre as pessoas. O imaginário é encontrado, por exemplo, em um filme. Diante da tela de projeção a imagem exige um mergulho na sua plenitude. Na medida em que experimentamos acionamos nossos sentidos, assim, incorporamos a imagem a nosso imaginário, a qual repercute em nossas atitudes.
Um filme que tenta espelhar uma cultura organizacional torna-se produto e produtor do imaginário social. Dele jorram conceitos oriundos de mitos, estereótipos e fantasias, os quais geram outros mitos, estereótipos e fantasias, porém imersos em uma consistente realidade.
O entrelaçamento entre plateia e obra, portanto, é um fato. Edgar Morin já afastava a ideia de passividade do espectador, reforçando o entendimento de que entre a imagem e a assistência há uma relação, uma interação. Assim, é interessante supor os efeitos difusos de uma obra como "Tropa de Elite" no imaginário da sociedade.
Desta forma, em relação aos profissionais de segurança, aventa-se a possibilidade dela vir a se firmar como plena verdade em relação a ação de força, uma heroica verdade e, consequentemente, reforçar atitudes que ali encontram guarida para se reproduzirem. É uma questão de visibilidade. Não se pode tirar do homem a possibilidade dele ser o ator de sua existência, muito menos é possível isentá-lo das consequências de suas escolhas. Os pequenos atos “heroicos” amenizam a sensação de impotência diante do emaranhado de conflitos criados pela sociedade, cotidiano da polícia é comparado ao mito grego de Sísifo que rola uma grande pedra colina acima, ao chegar ao cume a pedra rola para o outro lado abaixo. Fazer polícia é um eterno recomeçar.
Por sua vez, tratando da sociedade, podemos supor que ela venha a tolerar os métodos - de força – apresentados no filme (enquanto forem aplicados a uma distância segura ), já que diante da urgência justifica-se a simplificação do enfrentamento: a violência resolvida pela violência.

Ao fim chegamos a um ponto crucial, quando se observam os jogos de poder firmado pela política - não esqueçamos – fruto de um ambiente social em que as relações são verdades inconvenientes, mas afinal todos “lucram” ( alerto, ainda, para que evitemos o perigo das generalizações ). Estamos diante da exposição de um sistema e de suas interações, porém alguns da plateia ainda podem não ter descoberto que o sistema ali exposto é recorte da sua sociedade, onde ele é ator. Para Michel Maffesoli, falando da arte, o criador só é criador se consegue captar a sociedade. O filme, desta maneira, transforma-se em um Panóptico. Michel Foucault propõe, em seu projeto, que o supervisor oculto manteria o poder sobre os internos a quem vigiava. Aqui a vigilância passa a ser da plateia sobre a imagem que materializa o Estado, no seu imaginário.
Neste passeio pela tela, cenários, roteiro, atores e plateia, aguça-se a pretensão de solucionarmos infinitas questões: É assim? Age-se assim? Continuará assim? Qual o motivo de ser assim? Como eu contribuo para isto? Porém, enquanto perdurar a possibilidade de diálogo entre os fatos da ficção e da realidade, todos estarão imersos na constância da incerteza e da reflexão. Contudo, o imaginário já será produto das imagens a que foi exposto, a plateia não mais será a mesma de antes da viagem pela obra.

Tenham todos um bom espetáculo.
* Tenente Coronel da Brigada Militar

2 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo. Li o Elite da Tropa e dispensei a ida ao cinema, sequer fui ao segundo. Não se trata de negar uma realidade (a da telona), mas de ser criterioso e seletivo.
    Um abraço
    César Augusto

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  2. Muito Interessante, mexe com o assunto em pauta no momento, Também gostei muito do conteúdo de todo Bog, auxilia em uma reflexão acerca do papel da polícia e o imaginário acerca deste.
    Abraço
    Aládio Dullius
    Dr. em Ciências Jurídicas e Sociais

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