terça-feira, 2 de agosto de 2011

Daniel foi preso por falar alemão

Recuperei um livro de registro de ocorrências da Brigada Militar ( Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Sul) datado de 1938. Nele constava a prisão do agricultor Daniel S. por falar o idioma alemão (preservo o sobrenome), destaco que o cidadão preso era de origem russa. Utilizo este parâmetro histórico pensando naquilo venhamos a planejar perante a ordem pública e, consequentemente, as políticas públicas de segurança para atender a sociedade atual.

Assim, trago esta reflexão diante expectativa criada pelo foco em Gestão dado por Governos e instituições no Brasil. Analiso-o, despretensiosamente por não o conhecer em profundidade, restringindo-me à gestão interna. Esta proposta traz uma lógica diferenciada para  atuação profissional em uma sociedade caracterizada pela conectividade, redes e antagonismos. Parte da eficiência e chega à efetividade (o impacto da ação pública). Pressupõe como base a superação de fronteiras pessoais e institucionais, como ilustra Edgar Morin ao tratar da inteligência cega, quando não se potencializam as competências e qualidades, ou ainda, a ética mecânica do burocrata, exposta por Zygmunt Bauman: “Isto não é comigo!”.

Os novos modelos de gestão são um produto da participação mais vigorosa da sociedade nas decisões políticas, cristalizado pelo Relatório sobre a Governança Global da ONU. Além do mais, a modernização da administração pública tem estreita ligação com sua própria legitimidade, conforme encontramos no livro A Questão do Estado no Coração do Futuro (Calame e Talmant) onde nos é lembrado que os dinossauros pereceram por não se adaptarem às mudanças do mundo.

A gestão da Segurança Pública deverá ter suporte em estratégias que estabeleçam propostas de vanguarda, alianças e excelência de gestão, incorporadas pela cultura profissional. Ou seja, tanto na repressão ou prevenção a administração terá de agregar conceitos como inovação, accountability, gestão da qualidade e do conhecimento, análise de processos, qualidade de vida dos funcionários, em suma, uma gestão calcada, “pasmem”, em áreas como a Engenharia de Produção. Porém, isto somente terá efetividade através de uma mudança da cultura de gestão percutida pelo compromisso direto dos comandos e chefias.

Então, respeitando os pseudos céticos, modernizar é preciso, seja acolhendo uma nova proposta ou apresentando alternativas com um suporte de conhecimento ao nível da complexidade social, caso contrário vamos continuar a prender “Daniéis”. Contudo, se não for ele o preso, desejo erfolg (sucesso) às novas ações públicas.


SÉRGIO FLORES DE CAMPOS
http://www2.forumseguranca.org.br/content/daniel-foi-preso-por-falar-alem%C3%A3o

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